domingo, 25 de julho de 2010

Conto: As Depressões de Vicky:


As Depressões de Vicky:

Vitória Catarina, 34 Anos, solteira, sem filhos.

Havia sido criada em São Paulo e Hoje vive numa grande cidade européia. De Classe Média Alta, Vitória jamais precisou trabalhar durante a juventude. Viveu até os 25 anos na casa dos pais e depois partiu a Europa para fazer turismo, com intenções secretas de por ali ficar.

Teve seu primeiro namorado aos 16 anos com quem perdeu a virgindade, mas aos 14 já havia tido experiências sexuais com as amigas com quem desde a infância se masturbava e trocava segredos sobre os rapazes, sobre seus desejos, vontades e sobre seus erros.

Durante os 20 Anos em que viveu na Cidade de São Paulo Estudou num dos melhores colégios particulares onde fez amigos com os quais se comunica até hoje nas comunidades de relacionamentos da internet como o Facebook.

Devido ao fato de ter passado toda a adolescência num mesmo nicho social, recebendo sempre os mesmos tipos de informações, principalmente as informações sobre as mulheres com mais de 30 anos, Vick não tinha esperança em ter filhos, ser esposa e formar uma família como parecia sonhar de maneira vaga até os 16 anos, quando seu namorado com quem já estava há um ano, morreu em um acidente aéreo traumatizando-a e transformando os sentimentos de Vick em raiva do destino, gerando uma amnésia forçada a respeito de si mesma. Amnésia esta alimentada pelos assuntos levianos e sem importância com os quais ela e quase que a totalidade de seus amigos, estavam sempre atualizados.

Para Vitória Catarina, uma das coisas mais importantes na vida era estar Bem. Sorrir, e ter muitos amigos. E assim acontecia nos bares em que ia, nas festas que freqüentava, nas escolas onde havia estudado, nos cursos que sempre fazia na intenção de aumentar mais e mais seu convívio social com pessoas que sempre, pareciam ser interessantes.

Para estar informada, Vick fazia questão de ler pelo menos dois ou três jornais de diferentes linhas de pensamentos todos os dias. Quando se auto-avaliava politicamente, se sentia ora socialista, ora democrata já que tudo o que havia escutado sobre os valores dessas linhas de pensamentos, se identificava com os sentimentos que pensava serem seus como: Tolerância, Paz, respeito á vontade dos outros e etc.

No inicio da década de 1990 se tornou colaboradora e militante de movimentos como Greenpeace e acreditava de verdade que todas as pessoas estavam ajudando a destruir o planeta terra e aqueles que sabiam disso, deveria punir e destruir os destruidores do planeta.

Desde o colegial Vick Havia incorporado diariamente em sua dieta doses de café que com o passar do tempo foram se tornando cavalares. Aos 15 anos se tornou uma consumidora fiel da marca de cigarros marlboro. Usava maconha com freqüência recreativa, mas sem jamais ter atitude de comprar e ter. Preferia pedir aos amigos que sabiam que eram mais adictos que ela e esses compravam sempre.

Mesmo sem nunca ter passado por dificuldades financeiras, tinha Vick um compromisso forte dentro de si. Com a idéia de que só deveria comprar coisas baratas. Quando ia ao Mercado, não importava á Vick quais eram as coisas que mais gostava ou as que queria experimentar, seu compromisso mental era simples e consistia em gastar o menos dinheiro possível.

O dinheiro que sustentava Vick na Europa vinha de pequenos trabalhos e bicos que fazia, mas principalmente da justa mesada que recebia de seus pais que viviam no sitio da família no Brasil, quase não tinham gastos e com os bens que tinham alugados, poderiam viver e ainda mandar algo a Vick para que não passasse necessidades.

Desde o início que o pai e a irmã de Vick Eram contra sua ida sozinha para Europa. Sua mãe era neutra e zelava pela felicidade da filha respeitando a vontade dela.

Mesmo com essas atividades profissionais esporádicas, sobrava tempo na vida de Vitória Catarina, o que fazia com que se sentisse uma pessoa bastante só. Toda Vez que Vick identificava ou sentia essa solidão, ia a cozinha, coava um café e ascendia um cigarro. Em silêncio sem balbuciar uma palavra pensava:

“ -Se La vie, como diriam os franceses”.

E assim seguiam seus dias, entre cafés, cigarros, os amigos que se comunicavam com ela pelo computador e os pensamentos que mantinha todos em segredo e jamais os abandonava.

Quanto aos Homens que se aproximavam de sua vida, eram vistos por ela, todos mais ou menos da mesma maneira, como seres humanos distintos, que mereciam ser respeitados, porém não muito mais do que como alimento de suas fantasias, figurantes para seus passeios e atividades sócio-culturais. A referência que vick tinha de um grande amor era limitada ao fato de ter deixado um antigo namorado ejacular em sua boca. Por não ter sentido nojo do esperma dele, acreditava que havia amado de verdade aquele sujeito.

Em suas contradições, Vick conseguia ver absurdos, como verdades óbvias.
Jamais havia questionado se as informações que recebia do Greenpeace por email, sobre a destruição do planeta terra eram verdades. Simplesmente tinha dentro de si o sentimento de que os governantes e as instituições, apesar de políticos, jamais iriam pensar ou fazer o mal para as grandes massas. Acreditava vick que seus sentimentos de pena das pessoas pobres e menos afortunada que ela, eram compartidos pelos governantes e pela elite do mundo.


Entre seus dogmas mentais, Vick cultivava o hábito de atravessar a rua somente na faixa de pedestres e quando o sinal estivesse vermelho para os carros.

Um dia esperando que o sinal abrisse para que ela atravessasse a rua, mentalmente se questionou pensando: “Não será subestimar a inteligência humana, manter dezenas de pessoas esperando que o sinal abra para atravessarem, sendo que todos sabem que é óbvio que não vem carro algum? Por que não usam o bom senso, ao invés de aplicarem regras para tudo?”

Separar o lixo era religioso. A sacola vermelha para plásticos, a branca para papéis e azul para lixos orgânicos. Sentia um orgulho cívico em ser prestativa para o sistema de limpeza da cidade, para o planeta terra que para ela, estava sendo destruído por garrafas plásticas, gente porca e vazamentos de óleo no oceano.

Vick escutara algumas vezes pessoas falando que a poluição no mundo era a projeção coletiva do que havia no interior de cada indivíduo. Mas achava aquilo bobagens. Achava perfeitamente harmônico, fumar, beber, matar animais para comer, acumular 3 vezes mais lixo em sua casa apenas para separá-lo para o serviço de limpeza e claro, salvar o planeta, com as necessidades de melhoramento do mundo e do convívio entre os homens.

Mesmo pensando e agindo dessa maneira confusa Vicky continuava firme em sua decisão de seguir o senso comum. Estava sempre disposta a aceitar os temas em questão, se estes tivessem perfis com tendências sociais ou democratas.

Por seu pai ter sido torturado na ditadura, tinha ela uma impressão do mundo dividido em Bem e Mal. Vick Olhava os países do oriente médio como seres menos evoluídos que o resto do mundo. Achava uma injustiça á guerra e não entendia como em pleno século XXI soldados aceitavam ordens e ia para um campo de batalha matar.

Para Ela cada pessoa tinha a sua própria verdade e todos poderiam ser felizes como quisessem se respeitassem o próximo.

Um dia Vick foi assaltada e aquilo a fez chorar muito. Daquele dia em diante ela prometeu que jamais usaria relógio de pulso e só usaria roupas largas para que sua fragilidade não chamasse atenção.

Ruy Mendes - julho 2010

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