segunda-feira, 4 de julho de 2011

Diário de Viagens –


 “Estação: Índia” –Primeiras Impressões.

Dizem que uma pessoa que vai a Índia pela primeira vez, ou ama ou odeia. Não há meio termo quanto ás impressões que toda a miséria e pobreza dos confins asiáticos, mesclada com uma riqueza espiritual intacta na essência e ao mesmo tempo corrompida no tempo causam ou possam sustentar. Faz algum tempo que remexi emails, materiais antigos, fotos, viagens, coisas que foram feitas há anos atrás quando eu ainda não estava identificado com isso que me transformei através do encontro com a minha essência. Com Isso que me considero e pratico nos dias atuais e os Indianos Chamam de “Dharma”.


Mesmo antes de haver internet, pra ser honesto desde que aprendi a escrever, sempre tive o costume de escrever diários, cartas, mensagens e guardar elas. Os emails que escrevo direcionados a pessoas em geral, sempre são salvos como: “carta a fulano”, “carta aberta bla bla bla”. E buscando essas “cartas” que em verdade são na maioria, rascunhos de emails, eu encontrei alguns até que recentes. Eram emails que enviava a um monte de pessoas, quando estive na Índia, realizando cursos, viajando e mais que tudo aprendendo, entrando em contato com informações que hoje são a base do meu dia a dia e trabalho como terapeuta, ou “Médico Animósico”.


Mais impressionante que os emails enviados, me surpreenderam os endereços de pra quem enviava. Noventa por cento perdi contato, ou briguei, me desentendi, mandei "tomar no cú", escrevi cartas esculachando e não me envergonho nem um pouco de ter aberto mão dessas pessoas e se o tempo voltasse atrás, abriria mão delas uma segunda vez, talvez de maneira mais cruel, ou mais inteligente e sarcástica no que tange a competição e as formas que acontecem uma separação.


Eu era um jovem paulistano, um DJ, ex-produtor de TV que havia abandonado o curso de jornalismo da faculdade no último ano. Era um novato estudante de acupuntura, já há alguns anos estudante que queria ser professor de yoga e tinha medo de ser confundido com “viado” por gostar de dar massagens. Para fazer dinheiro para ir viajar, fazia pães italianos e vendia aos vizinhos e amigos, trabalhava de segunda a quinta feira com as atividades terapêuticas que fazia de maneira tímida e pouco divulgada e aos finais de semana realizava trabalhos como DJ, produzia festas para empresas e tocava em eventos, além de alugar equipamentos de som e luz, mesclando isso com trabalhos de produção que garantiam o meu sustento. 


Tinha amigos em todas as esferas de relação. Amigos de infância, amigos de relação profissional, amigos de bairro, amigos da noite, amigos do clube, amigos do Bar, Amigos de tudo que era lugar.


Assustou-me quando vi que noventa por cento daqueles endereços de email, eram de pessoas que jamais foram de fato Amigas. Estavam em minha vida, faziam parte de minhas relações. Mas foi o próprio tempo e as atitudes dessas pessoas (ou a conseqüência das minhas atitudes) que me revelaram que as raízes daquelas relações eram muito mais um falso glamour que eu provocava e as atraía, somado a capacidade de competição, sedução e inveja, do que a admiração respeitosa e o carinho (amor) sincero dessas pessoas pela minha pessoa. 


Aos 25 anos de idade iniciei esse processo de “deletar” pessoas. “Amputar” gente de dentro de mim que considerava como membros de meu corpo. Gente que eu estaria disposta a dar minha vida por eles, sem jamais desconfiar se o sentimento deles por mim era verdadeiro ou no mínimo recíproco.


Sempre sofri por gerar inveja e desejo. Sempre estive protegido desses sentimentos negativos (fossem meus ou dos outros) pela minha ignorância e prazer em amar o próximo. Eu demorei para ter consciência.


A Índia foi o quarto ou quinto país que estive em minha vida e o terceiro continente. Fui ali sem nenhuma ilusão de novos aprendizados, preparado para jamais mudar e continuar pra sempre exatamente aquilo que pensava que era e com a idéia clara de ter um certificado indiano de “Yoga Siromany” (professor de Yoga) o que eu acreditava que me daria melhores oportunidades na carreira que queria seguir. 


Desde os 18 anos era praticante. Aos 24 me interessei em ser professor, mas não tinha coragem e era desestimulado pela pessoa que me ensinava. Essa me expulsou da escola, depois de pouco mais de 7 anos me dando aula e ensinamentos. Tudo graças ao meu jeito de ser e acima de tudo graças ao meu carisma e sucesso com suas alunas, que ele em vão, há anos tentava comer se tornando aos olhos delas cada vez mais estranho, e eu em poucas horas me tornava grande amigo. 


Nessa escola e com esse professor estudei por volta de 7 anos, enquanto paralelamente entrava em contato com os livros do Professor Hermógenes, que é de verdade quem eu considero meu grande Mestre de Yoga. 


Tenho gratidão por meu primeiro professor, com quem estive nos primeiros anos, mas não posso deixar de reconhecer que era uma pessoa instável, agressiva e megalômana. Ainda assim me permitiu por anos freqüentar suas aulas e crescer nas práticas, até o momento em que esse crescimento começou a afetar seu ego, superar seu caráter e fazer com que ele enxovalhasse o tratamento dado a minha pessoa. 


Eu não tinha escolha há não ser fazer aquilo que todo aluno que desafia e aponta as contradições de seu mestre, faz que é: Beber na fonte em que todos Eles beberam. E se as pessoas que querem fazer dinheiro, ora ou outra vão ter de aprender sobre isso nos EUA, em Londres ou na Suíça, no que tange a yoga, ninguém pode ser ensinado e aprender, melhor do que indo a própria Índia, (berço milenar dessa técnica) e vivendo tudo que acontece na vida de um sujeito que pisa aquela terra. 


Abaixo segue o 1º email que enviei aos meus “amigos” e contatos da época. Relendo posso sentir meu deslumbre, misturado com a pureza sem desconfiômetro, doçura e o prazer em compartir a viagem. Minha total ignorância a respeito da história do planeta terra e da raça humana. Meus parcos conhecimentos fragmentados de história. Minha ilusão a respeito da impotência humana. Meu equívoco sobre os ingleses e a " evolução" ocidental. 


Espero que meus leitores gostem. Em Breve postarei outros registros dessa e de outras viagem, em diferentes cidades, com diferentes impressões e grandes aventuras. 


Por último gostaria de registrar que: É um prazer para mim dividir isso com os leitores de hoje, que sei que me acompanham atualmente e não são poucos, ou pelo menos são muito mais do que aqueles "pretensos amigos" em uma centena de endereços de emails do passado. É um prazer para mim dividir isso com amigos, que não são menos amigos por nunca terem me visto ao vivo e são desconhecidos fisicamente de minha pessoa. 


Sinto muito mais prazer hoje com vocês, do que com pessoas que convivia, considerava e pensava amar, ou pelo menos conhecer. Manterei os textos originais sem quase corrigir nem editar nada e apenas incluirei fotos.


As fotos também foram todas feitas por mim durante a longa viagem e como não sou fotógrafo profissional, desde já peço desculpas. Espero que gostem: Namastê.

Entao...

Eu cheguei a Índia ha 5, 6 dias... E ainda nao havia tido tempo de escrever nem condensar tudo que acontece dentro do amago de um sujeito que pisa nesta terra....
Tumba de Gandhi







Dizem que antes da divisao da pangeia a uns 5 milhoes de anos atras, India, 


china e  america latina eram o mesmo pedaço de terra... se isso for verdade... Por um lado o brasil fez muito bem de se separar da Ásia, para que agora pouco a pouco, cada celula que somos nos, possa vir reencontrar a gota de divina espiritualidade que perdemos.

Nova Delhi, como eu ja disse a alguns.. caos. Gente demais.... uma nevoa cinza que se mistura com os gases de combustiveis fosseis e as fogueiras de lixo que os indianos adoram fazer... 





O fogo tem um significado elementar pra eles aqui... aos poquinhos tenho conseguido entender.

Depois de 2 dias em delhi, estress e passeios turisticos, segui para haridwar... cidadezinha de fanaticos religiosos , sadhus onde alcool e carne sao punido pela lei de forma severa, com cadeia e tudo. La pela primeira vez encontrei o rio ganges (ganga river como eles dizem aqui), Rio enorme e bravo, que corre sem parar atraves de uma baita forca... Sua agua, apesar do monte de gente, e limpa e cristalina.... 





Eu estava decidido a nao entrar no rio. Mas em um momento de "sublime magica" sentado sozinho, numa das escadarias em frente, fui chamado por ele, como um discipulo e chamado por seu mestre, tirei minha roupa e ali me banhei, mergulhando minha cabeca dentro dele por 7 vezes. 






Sua agua gelada engrossou meu fino cabelo, despertou minha pele e rejuvenesceu toda minha aura. O ganges nasce no gangotri, e antes de chegar ao gangotri, vem do mundo espiritual. 
Foi a India
 o local escolhido pelos seres da espiritualidade, para guardar para os homens os conhecimentos e os segredos do mundo invisivel e da sabedoria atemporal do universo. Para nos ai do brasil isso pode parecer loucura, mito ou lenda, mas pra eles aqui e algo bem trivial e simples, faz parte.







Depois de 2 dias la em haridwar, segui finalmente para Rishikeshi (de tata, uma especie de mototaxi que eles guiam como tarados...). 








Rishiskesh e conhecida como a capital mundial do yoga, (foi aqui que os beatles gravaram o white album e conheceram o Mararish Marresh) e sinceramente era o principal motivo de minha vinda para ca. Aqui estou extasiado. 




A cada esquina a um curso de massagem, uma escola de yoga, praias de areia fina banhada pelo ganges e todas as coisas sao muito baratas.... imagine vc pegar transporte a menos de 50 centavos, receber massagens por 10 ou 20 reais, praticar diferentes linha de yoga em troca de donativos, se hospedar num resort, jantar em bons restaurantes por 3, 5, 6, reais..... a moeda aqui vale nada.. ou ainda menos do que isso... cada 20 rupias e equivalente a 1 real... portanto quando quiserem gastar pouco pra viajar, venham a India...











Devo me extender por aqui por pelo menos um mes e depois devo seguir para varanassi e goa.... mas isso ainda nao e certo, pois num segundo tudo pode mudar.

A parte que menos gosto desta viagem e fazer tudo só (apesar de ter feito amigos e ter conhecido pessoas) mas quando digo só, e porque nenhum de vcs, principalmente os mais intimos estao aqui... e nao sao poucas as horas que me imagino recebendo a reação e o comentario de cada um, em cada momento engracado, espantoso e etc....


As principais conclusoes que aqui cheguei por enquanto foram: 


"A invasao inglesa foi uma bencao para o povo daqui!" 


"O Indiano vibra na adolescencia da espirtualidade". 


"Ghandi é imbativel!" 


"Yoga é autoperfeição e a busca por essa". 


"Aqui seria nada sem nós e nós seriamos nada sem aqui". 


"Tudo é como tem que ser". 


"Bom mesmo deve ser ser uma vaca na Índia mais sagrada e respeitada que tudo, sempre a vontade e mimada.... e so por que da leite..."





Um beijo a todos e obrigado por serem cúmplices e parceiros nessa viagem e confissão.

Assim que puder, escreverei mais. Fiquem a vontade para responder e caso nao estejam gostando, basta me pedir e eu desadiciono desses longos e cansativos emails, ok?!

Hare OM, namaskar
Ruy

Um comentário:

  1. "É um prazer para mim dividir isso com amigos, que não são menos amigos por nunca terem me visto ao vivo e são desconhecidos fisicamente de minha pessoa(...)Sinto muito mais prazer hoje com vocês."

    Para mim, a plenitude vem quando conseguimos estrapolar os limites físicos. Sei que você e os leitores daqui sabem super bem sobre isso. Mas até hoje não tinha visto nada ou tão pouco lido sobre isso através de um exemplo tão "palpável"...rsrs

    É isso Ruy, é sempre um prazer compartilhar às suas idéias.

    Harley.

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